quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

“É a fé que pode dar à razão (aos filósofos) a coragem de pensar até o fim e não desabar na desconstrução niilista”.

Fonte: IHU

O desafio para a filosofia atual é ter mais audácia. É preciso não se deter na superfície. É preciso colocar os problemas fundamentais que dizem respeito à existência dos homens. É preciso ousar pensar.

Para o jesuíta francês Prof Dr Paul Valadier, esse programa proposto até mesmo por papas filósofos como João Paulo II e Bento XVI visa a colaborar com a razão, para que não seja “esmagada pela amplitude dos problemas enfrentados pela humanidade atual: não somente a ecologia e o futuro do planeta, mas o encontro das culturas e das religiões”, afirmou.

Para Valadier, mestre e doutor em teologia pela Faculdade Jesuíta de Lyon, teologia e filosofia se tornam essenciais uma à outra na época atual. A filosofia ajuda e estimula a teologia a não “soçobrar nos diversos iluminismos ou integrismos que também caracterizam a atualidade da vida eclesial”. Segundo Valadier, se existe uma tradição católica forte, isso se deve ao seu “respeito pela razão em todo o seu alcance, sem a qual a fé soçobra no vazio”.

“Muitos suspeitam da filosofia moderna por seu ceticismo, seu relativismo, seu agnosticismo, e mesmo por seu ateísmo. Mas uma fé viva deve poder enfrentar estes sistemas, não para esmagá-los por sua suficiência, mas para compreender suas lógicas e aprender a situar-se em relação a elas”, afirma o filósofo especialista em Friedrich Nietzsche, e que foi durante oito anos chefe de redação da revista francesa Études. “Talvez seja a fé que pode dar à razão (aos filósofos) a coragem de pensar até o fim e não desabar na desconstrução niilista”.

O desafio das religiões, nesse contexto, é “encarar as nossas diferenças e não procurar apagá-las. A paz e o entendimento só podem nascer da consciência compartilhada de nossas (legítimas) diferenças”, esse é “o mundo pluralista no qual nós devemos viver e no qual é preciso procurar paz e concórdia entre todos os povos e todas as religiões”.

Por isso, explica, a maior contribuição das religiões monoteístas na atualidade é o seu encontro – nas palavras de Paul Ricoeur – no “conflito das interpretações”. Assim, afirma Valadier, as religiões podem responder às suas “pretensões de universalidade”, contribuindo “de maneira eminente ao fortalecimento da comunidade internacional e de seu direito”.

O cristianismo, especificamente, “pode lembrar oportunamente que o indivíduo, considerado como um átomo separado é apenas uma ilusão inconsistente. A pessoa humana nasce e se desenvolve nas relações, e somente nelas”,”Se ela se crê ’soberana’ ou ‘autônoma’, ou seja, sem elo ou sem alteridade, ela se perde e se torna ‘escrava’ de suas pulsões”.

Portanto, o cristianismo, “professando que todo ser humano é amado por Deus (eleição divina), indica o valor da pessoa e nela suscita uma vontade criadora que não se abandona, mas procura responder positivamente à sua vocação”, diz Valadier.

Com relação aos desafios e perspectivas de futuro, em uma realidade em que a Igreja Católica passa por um declínio na Europa e está “em plena florescência” na Ásia e na África, Prevê que “o centro de irradiação da Igreja Católica não será mais a Europa, como antigamente, mas será, cada vez mais, a Ásia, a África e a América Latina“

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Os religiosos e sua relação com a Igreja e o Bispo local. Vaticano se manifesta.



Os religiosos devem obedecer aos bispos, recomenda a Congregação para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. “É fonte de perplexidade que os religiosos não participem das estruturas de consulta e de colaboração da Igreja particular, como os encontros de decanato, as assembleias pastorais, as jornadas de formação”.

Além disso, é direito de um bispo ser consultado quando um instituto religioso “vende um imóvel, retira um pároco ou um vigário, ou decide deixar a diocese”. Portanto, as ordens religiosas não poderão mais se defender atrás do escudo da isenção. É o fim dado pela Santa Sé às igrejas paralelas “faça você mesmo”.

“Houve algumas declarações infelizes por parte de alguns que afirmavam ser porta-vozes de uma ‘Igreja profética’, que, por sua natureza, deve se opor à hierarquia”. Quase como se “pudessem subsistir como duas realidades diferentes, uma carismático, a outra institucional, enquanto ambos os elementos, ou seja, os dons espirituais e as estruturas eclesiais, formam uma única, embora complexa, realidade”. [grifo meu]

Há muito tempo, chovem no Vaticano, especialmente da Áustria e da América do Sul, notícias alarmantes de sacerdotes dissidentes que fazem com que leigos celebrem a missa e que admitem os divorciados em segunda união à comunhão, de mosteiros e conventos que atuam sem dialogar com o bispo e de inveterados abusos litúrgicos. [grifo meu]

O secretário da Congregação dos Religiosos, monsenhor Joseph Tobin, comunicou aos superiores maiores o “alto lá” do papa aos desvios das regras. Mostrando os elementos de dissonância recíprocos, a Santa Sé colocou sob observação a fraca colaboração entre Igreja local e vida consagrada para “superar uma tendência a uma forte separação entre sacerdotes religiosos e diocesanos”. O objetivo é redescobrir a “missão comum do cuidado das almas”.

O Vaticano condena o fato de ter se desenvolvido, entre os sacerdotes provenientes de institutos religiosos, “a tentação de um fechamento em si mesmos, manifestada, por exemplo, na não colaboração com a Igreja local a respeito de certos pedidos pastorais que não invalidam o fato de poderem viver seu próprio carisma, ou na não participação nas várias iniciativas empreendidas pelas dioceses”. [grifo meu]

Uma outra tentação, de acordo com o “número dois” do dicastério vaticano, que está presente hoje dentro dos sacerdotes que pertencem à vida consagrada com relação à Igreja local, oposta à anterior, se dá pelo fato de “não viver plenamente o próprio carisma, por causa da excessiva generosidade com a qual se quer responder às exigências sacramentais presentes nesse determinado território”. A urgência agora é de “aumentar, acima de tudo, um conhecimento entre sacerdócio religioso e diocesano e também uma efetiva colaboração”.

Por isso a Santa Sé pede “uma ação de diálogo entre essas duas realidades eclesiais”. Esse diálogo deveria se desenvolver sobre quatro características fundamentais que são: a clareza, a confiança, a mansidão e a prudência.

É preciso que “as estruturas voltadas ao diálogo entre Igreja local e vida consagrada” tenham como fundamento “a busca da comunhão recíproca na Igreja”. No centro de tudo, deve haver “a escuta das pessoas e sobretudo das necessidades mais profundas do homem moderno e a busca da verdadeira Sabedoria para saber ler os acontecimentos que ocorrem na história através dos olhos de Deus”.

A vida consagrada tem “uma missão viva dentro da sociedade, que é a de saber reconciliar o homem com Deus”. Para realizar isso, os consagrados, especialmente os sacerdotes, “devem aprender de Jesus o mesmo olhar que Ele tinha quando estava no mundo e olhava para a humanidade que se apresentava diante dele”.

É importante, portanto, que a vida consagrada “saiba pôr-se em uma atitude de verdadeira escuta ao homem hodierno e às suas problemáticas que ele traz consigo no seu caminho existencial”. E se o tempo histórico atual apresenta muitas dificuldades, “elas só não desanimam a Vida Consagrada se ela souber adquirir aquela Sabedoria com a qual ela saberá julgar os problemas hodiernos com esperança”.


Essa esperança “nasce da força do carisma, que é o instrumento com o qual é preciso considerar todas as coisas através dos olhos de Deus e com a confiança de que o Senhor, mesmo no tempo hodierno, está preparando algo para todas as pessoas, que nós, porém, imediatamente, ainda não conhecemos”. Portanto, a “vida consagrada, centrada em Cristo, saberá realmente oferecer ao tempo hodierno a sua presença vivificante, sapiencial e profética”.



 

sábado, 5 de novembro de 2011

"O silêncio não vai ajudar a Igreja”, diz padre Paulo Ricardo

ESCRITO POR PAULO BRIGUET | 05 NOVEMBRO 2011



“A sociedade está em crise porque os líderes morais que poderiam dar uma orientação às pessoas estão calados. Alguém tem de pagar o preço de falar. Mesmo sabendo que, ao falar, a pessoa vai sofrer o martírio dos tempos modernos”. 
É o que afirma o padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior em entrevista a Paulo Briguet, do Jornal de Londrina.

Paulo Ricardo de Azevedo Júnior é um padre no sentido pleno da palavra. E não apenas por usar batina. Eis um padre que segue o catecismo, o missal e a doutrina católica. Um padre que defende a Igreja e o papa. Um padre estudioso e com grande domínio da palavra. Um padre que conhece profundamente as questões canônicas. Um padre que fala de vida espiritual. Um padre que não ignora este mundo, mas sem jamais esquecer o outro. Um padre que não se furta a criticar outros sacerdotes, sobretudo o chamado “clero progressista”, ligado à teologia da libertação. Um padre à maneira antiga – tão antiga quanto os 2 mil anos da Igreja Católica. [grifo de Jailson Morais]
Com todas essas qualidades, o padre Paulo Ricardo está fazendo um grande sucesso com seu trabalho de evangelização na internet. Através do site padrepauloricardo.org, ele diz o que pensa para um público cada vez mais amplo – e constituído em grande parte por jovens.
Nascido em novembro de 1967, o padre Paulo Ricardo foi ordenado em 1992, pelo papa João Paulo II. É bacharel em Teologia e mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Membro do Conselho Internacional de Catequese, nomeado pela Santa Sé, pertence à Arquidiocese de Cuiabá (Mato Grosso). É autor de diversos livros e apresenta o programa semanal “Oitavo Dia”, pela Rede Canção Nova de Televisão.
Durante uma visita do padre Paulo Ricardo por Londrina e região, em setembro, o JL realizou a seguinte entrevista. Entre os assuntos abordados, o papel dos cristãos na sociedade contemporânea e uma relação especial com a cidade de Londrina.


JL: Em 2005, o sr. passou por uma experiência pessoal muito importante em Londrina. O que aconteceu? E de que forma essa experiência o marcou? 


Padre Paulo Ricardo: Há seis anos, eu estava vindo de São Paulo e o avião fazia escala em Londrina, indo para Cuiabá. Aconteceu que o avião atrasou, tivemos que ir para o hotel. Depois voltamos para pegar o avião outra vez. Uns cinco minutos depois da decolagem, houve um estouro na turbina direita. Trinta segundos depois, um novo estouro. Ninguém sabia o que estava acontecendo. O pessoal ficou apavorado. O avião continua estável, o que se via claramente. Fiquei pensando: vou observar. Se eu notar que vai ocorrer o pior, dou a absolvição coletiva.

Enquanto eu não sabia o que estava acontecendo, fiz meu ato de contrição, pedi a Deus perdão do meu pecado – e esperei. Enquanto esperava, pensei que havia sido prudente inutilmente. Agora eu estaria me apresentando diante de Deus, Deus iria pedir conta do meu ministério, e eu fui prudente a vida inteira, porque queria ser bispo, queria fazer carreira, não queria me queimar. Dali para frente aquilo marcou. Dali para frente eu vi que era um homem morto. Deus me disse assim: “O que eu havia previsto para você eram somente estes anos de sacerdócio, agora você vai morrer, acabou, e você não deu conta do recado. Você escondeu seus talentos”.
Dali para frente resolvi me considerar um homem morto. Porque Deus estava me dando uma segunda chance. Eu não poderia mais me colocar numa situação de prudência, pensando no futuro. O bom soldado, quando vai para a guerra, não tem que se preocupar em voltar para casa. Ele tem que se preocupar em sobreviver o maior tempo possível para fazer o maior estrago para o inimigo. O soldado sabe que um dia vai levar um tiro e um dia vai sair de ação.
Esse foi meu exame de consciência: o sacerdócio é um dom, e um dom não é algo para ser guardado. Dali em diante, eu vi que a minha batina não é um enfeite, ela é uma mortalha. O sacerdote é um homem que deveria ter morrido para o mundo; se ele não morreu para o mundo, o que está fazendo aí? Afinal de contas, a Igreja e o sacerdócio ou servem para o Céu, ou não servem para nada, podem fechar as portas.
JL: E de que maneira a Igreja Católica pode assumir a sua verdadeira missão?



Padre Paulo Ricardo: A grande dificuldade é que a Igreja, nas últimas décadas, introjetou a acusação dos marxistas – de que “a religião é o ópio do povo”. Ela se sente culpada de falar do Céu, de salvação eterna, de felicidade futura. E tenta desconversar com uma suposta doutrina social. Você vai para a Igreja e dizem que a finalidade da religião é “fazer um mundo melhor”. Ora, mas essa não é a finalidade da Igreja! Bento XVI, na encíclica “Spe Salvi”, que houve uma imanentização da esperança cristã. A esperança cristã era voltada para o Céu, agora a gente espera a coisa aqui na Terra. A gente espera um mundo ideal, um mundo melhor, em desfavor da transcendência.

Paulo Briguet: Foi a partir desse episódio que o sr. iniciou o trabalho de evangelização na internet?



Padre Paulo Ricardo: Na verdade, a coisa foi gradual. O episódio do avião foi em 2005. Existem conversões fulminantes, como a de São Francisco – o homem que um dia era pecador, no outro era virtuoso. Comigo não foi assim. Ou melhor: comigo não está sendo assim – porque ainda não terminou. Sempre fui um menininho comportado, conservador, usava traje social, camisa de manga comprida... Quando entrei no seminário, logo veio a tentação da carreira. Eu me saía melhor nos estudos; era apreciada pela maneira como falava; comecei a pensar numa carreira dentro da Igreja. Fui para Roma, fiz Teologia lá. Vivia mais no Vaticano do que Universidade, sempre metido com cardeais e gente importante. Quando fui ordenado padre pelo papa João Paulo II, passei a desempenhar algumas funções menores na Santa Sé, nada muito importante. Minha pretensão era voltar ao Brasil, servir a diocese por um tempo e depois fazer carreira no Vaticano. Mas aconteceu que em 1997, tive uma experiência de conversão. Uma experiência com Santa Teresinha. Ali eu comecei a perceber que não poderia ser padre sem abraçar uma cruz. Não poderia transformar o sacerdócio numa carreira. Entendi que o sacerdócio não era um homem, mas o sacrifício de um homem. Passei a me voltar mais para Deus, para a espiritualidade. Eu já era padre há cinco anos. Em 2002, eu conheci pela internet o filósofo Olavo de Carvalho e comecei a ler tudo que ele escrevia. Foi como se escamas caíssem dos meus olhos. Você descobre por que apanhou a vida inteira: você descobre por que lutava numa argumentação, vencia os debates, mas nada mudava. A partir disso, passei a ver que as razões verdadeiras não eram as razões apresentadas em discussões. Tem sempre algo debaixo da mesa. Tem sempre a má intenção por trás – o que é típico da mentalidade revolucionária. Em 2005, houve o episódio do avião. De 2005 para frente, eu passei a ser muito mais claro no que dizia. A partir daí comecei a realizar uma pregação mais clara contra a corrente geral.

JL: Como o sr. definiria hoje o seu papel na Igreja? 



Padre Paulo Ricardo: Hoje eu vejo que não nasci para ser bispo. Que nasci para ser pai de bispo, ou seja, formar uma geração de novos padres – e, um dia, um deles será bispo. Um dia algum deles vai ajudar a Igreja no episcopado. Para mim, o importante é saber agora que o silêncio não vai ajudar a Igreja. A gente vê no jovem a gratidão imensa quando você fala.

O filósofo Eugen Rosenstock-Huessy, pouco conhecido no Brasil, analisa as doenças da linguagem. Uma delas é a guerra; outra é a crise. O que caracteriza a guerra? A guerra é quando eu não quero ouvir o meu inimigo. Já a crise é o contrário: é não falar ao amigo. Meu amigo precisa de minha ajuda, eu sei onde está a solução, mas por conveniência eu calo. Assim a sociedade entra em crise. A sociedade está em crise porque os líderes morais que poderiam dar uma orientação às pessoas estão calados. Alguém tem de pagar o preço de falar. Mesmo sabendo que, ao falar, a pessoa vai sofrer o martírio dos tempos modernos, como o papa Bento XVI descreve com muita clareza, até porque ele mesmo é vítima desse processo.
O martírio dos tempos modernos é o assassinato da personalidade. É transformar o sujeito em não-pessoa. É a calúnia, a perseguição. Você vai sendo fritado. Então, hoje nós precisamos na Igreja do Brasil de padres e bispos mártires. Uso sempre a palavra profético, mas a palavra mais adequada seria mártir. Martyrios em grego quer dizer testemunha. Alguém que crê tanto no Reino do Céu que está disposto a desprezar o reino dos homens.
JL: Há uma guerra cultural em curso no Brasil de hoje, à semelhança do conflito que Peter Kreeft identificou na sociedade norte-americana?



Padre Paulo Ricardo: Existe uma guerra cultural incipiente no país. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, a esquerda brasileira conseguiu a hegemonia da mídia. Em todos os âmbitos. Qualquer um que seja oposição só tem um espaço de militância atualmente, que é a internet. Basicamente esse é o espaço que nos concedem – ainda. A esquerda diz que a revolução só pode ser alcançada se houver um período que a precede, chamado de acumulação de forças. Nós estamos no período de acumulação de forças. Ainda não existe guerra de fato. Guerra supõe exército dos dois lados. O que existe é um exército que invadiu e ocupou o país. Nós temos uma ocupação hegemônica da esquerda. Mas a geração está sendo formada. Bento XVI, nesse sentido, foi o homem da Providência para a Igreja e para o Brasil. É preciso recomendar que o cardeal Joseph Ratzinger foi o homem que condenou a Teologia da Libertação. Antes, quando se citava o cardeal Ratzinger, tudo quanto era bispo e padre aqui no Brasil dizia que isso era uma “visão radical”. Hoje em dia, cita-se Bento XVI e todos têm que ficar calados, porque não podem dizer que o papa é radical. O papa nos deu carta-branca. Está servindo como escudo para que a gente possa agir. Dentro do meu ministério, eu sempre tenho como diretriz lutar as lutas que o papa está lutando. De tal forma que o bom católico veja que eu não estou seguindo uma ideologia; eu estou seguindo a fé da Igreja de 2000 anos. A hegemonia esquerdista no Brasil é tal que a pessoa que pretende ser católica se sente um peixe fora d’água. A oposição ao pensamento do papa é tão grande que a maior parte dos jovens se sentiria fora da Igreja. A esquerda católica nos acusa – a nós que somos fiéis a Bento XVI – de estarmos fora da Igreja. Mas já que o papa está ao nosso lado e nós estamos ao lado do papa, eles não podem mais dizer isso.

JL: O sr. sempre diz que no Brasil tenta-se impor uma minoridade social aos católicos. Em que consiste esse processo?



Padre Paulo Ricardo: É a chamada ideologia do Estado laico. Segundo essa ideologia, qualquer pessoa que tenha uma visão religiosa do mundo deve guardá-la para sua vida privada. Para os defensores dessa ideologia, a religiosidade não tem espaço público, não tem cidadania. Uso essa expressão – minoridade – para dizer que nós somos cidadãos brasileiros como os menores de idade. Mas nem todos os nossos direitos são reconhecidos. Os menores de idade não podem votar, não podem dirigir carro, têm direitos e responsabilidades limitadas.

Há um grupo que se apossou da “classe falante” e não nos dá direito de falar e expressar nossas opiniões – porque nós somos religiosos. O fato é o seguinte: o ateísmo é uma atitude tão religiosa quanto o catolicismo, pois vê o mundo a partir de um prisma religioso, a não-existência de Deus. Não existe alguém indiferente ao problema religioso. Se você varre do espaço público qualquer manifestação religiosa, não está colocando o Estado nas mãos de uma visão religiosamente isenta; você está impondo uma religião que se chama materialismo ateísta. Os ateus não são cidadãos de primeira categoria e nós não somos cidadãos de segunda categoria. Eles são tão cidadãos quanto nós; têm o direito de ser ateus. Só que, numa democracia, quem dá o tônus do ambiente cultural é a maioria. A maioria esmagadora da população brasileira é extremamente religiosa. Portanto, nós não temos por que ficar amordaçados por uma minoria de ateus militantes. [grifo de Jailson Morais]
Publicado no Jornal de Londrina.