"Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica"
(St. Agostinho - Contr. Epist. Manichaei. v, 6)
Nós cremos somente na Bíblia, e a Bíblia inteira é a única regra de fé para o cristão.
Talvez você já tenha ouvido esta frase ou algo parecido de um protestante evangélico. Ela é, em essência, o significado da doutrina da Sola Scriptura, ou Somente a Escritura, que alega que a Bíblia - interpretada individualmente pelo crente - é a única fonte de autoridade religiosa e é a única regra ou o único critério em quê o crente deve acreditar. Por esta doutrina, que é uma das fundamentais doutrinas do protestantismo, o protestante nega que exista qualquer outra fonte de autoridade religiosa ou revelação divina à humanidade.
A Igreja Católica, por outro lado, afirma que a regra imediata ou direta de fé é o ensino da Igreja. Este, por sua vez, tem suas Fontes da Revelação Divina - A Palavra Escrita, a Sagrada Escritura, e a Palavra não-Escrita, conhecida como Tradição. A autoridade do Magistério da Igreja Católica (chefiado pelo Papa), apesar de não ser ela própria uma fonte de revelação divina, possui a missão de interpretar e ensinar tanto a Escritura como a Tradição. Estas duas formas são as fontes da doutrina cristã, a regra de fé cristã remota ou indireta.
Obviamente, estas duas visões apresentadas são opostas, e aquele que busca seguir Cristo deve ter a certeza de que está seguindo a verdadeira.
A doutrina da Sola Scriptura se originou com Martinho Lutero, um monge alemão do século 16 que quebrou sua união com a Igreja Católica Romana e iniciou a Reforma Protestante [1]. Em resposta a alguns abusos que ocorriam na Igreja, Lutero tornou-se um grande oponente de certas práticas. Como tais abusos de fato ocorriam, Lutero estava correto em se revoltar. Contudo, houve uma série de confrontos entre ele e a hierarquia católica. E à medida que foram evoluindo, as disputas foram se centrando na questão da autoridade da Igreja e - pelo ponto de vista de Lutero - se o ensino da Igreja deveria ser considerado regra de fé legitima para os cristãos.
Crescendo as disputas entre Lutero e a hierarquia da Igreja, ele a acusava de haver corrompido a doutrina cristã e distorcido as verdades bíblicas, e cada vez, mais e mais, ele acreditava que a Bíblia, interpretada por cada indivíduo, era a única regra de fé religiosa para o cristão. Rejeitou a Tradição assim como a autoridade do ensino da Igreja Católica (com o Papa como sua cabeça) como tendo legítima autoridade religiosa.
Um observador honesto poderia perguntar, portanto, se a doutrina de Lutero sobre a Sola Scriptura seria uma restauração genuína das verdades bíblicas ou a promulgação de uma visão pessoal acerca da autoridade da Igreja. Lutero era um apaixonado pelas suas crenças, e foi bem-sucedido em divulgá-las, mas estes fatos por si só não são garantia alguma de que o que ensinou esteja correto. Pelo fato de o bem-estar, e mesmo o destino eterno das pessoas, ser uma aposta de confiança, o fiel cristão precisa estar precisamente seguro neste assunto.
Nos artigos seguintes vou expor vinte e uma considerações que ajudarão você, leitor católico ou protestante, a analisar cuidadosamente a doutrina luterana da Sola Scriptura de um ponto de vista bíblico, histórico e lógico, e que mostrará que de fato esta não é uma doutrina bíblica genuína, mas somente uma doutrina de homens.
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